segunda-feira, 25 de março de 2019

Para a Plataforma Superela:Crônica - Redescobrindo All Stars



Crônica: Redescobrindo All Stars


Imagem original do texto no site Superela/Pexels


Corro para fugir da chuva enquanto abraço forte os livros.

Não, eu não fujo do banho de chuva, amo, acho revigorante, mas não quero molhar os muitos papéis que carrego: Pedidos de exame, guias do plano de saúde, livros que levei para terminar de ler durante a longa jornada na sala de espera do cardiologista e a velha agenda em espiral que insisto em usar a mesma por dois anos (!). Um coração de quarenta e poucos anos, que mais apanhou do que bateu, definitivamente precisa mesmo um de check-up, ou de uma recauchutagem para continuar a jornada.

Meus olhos ainda não avistam o carro e apresso os passos quando as gotas começam a molhar a roupa e os sapatos, definitivamente, correr com salto alto é um atraso de vida, ainda mais em uma calçada irregular!

Aprendi a usar salto aos 15 anos nos ensaios para desfile de modas. Moleca que era, enquanto minhas amigas exibiam sapatos de salto alto finos, com bicos mais finos ainda (salve geração adolescente anos 90) eu, uma magrela de cabelos com cacheados na altura da cintura, preferia um All Star. Aah sim, sem dúvida um bom e velho All Star surrado nessa hora me faria alcançar o bendito carro antes de todo aquele aguaceiro que, a essa altura já era torrencial. Alcanço o carro finalmente e chego em casa encharcada com a chuva fresca que caiu sobre mim e sobre todos os aqueles benditos papeis...puxa!

Abro o armário em busca de um chinelinho e não tem um par sequer lá dentro, tampouco um tênis All Star. Mas porque cargas d’água eu deixei de usar um calçado tão confortável e fofo como aquele e ‘subi nas tamancas’ nos últimos 20 anos? Que falta de sentido!

Busco uma foto antiga onde estou lá adolescente (ao lado do namoradinho) vestindo calça e jaqueta jeans e, claro, o tênis preto com listas brancas, uau!
Confesso que uma nostalgia pairou no ar ali enquanto raios e trovões davam um verdadeiro show lá fora, ahhhhh tempo bom aquele da foto! Corro até o aparelho de som (sim, ainda uso esse termo) e coloco lá via bluetooth (modernizando a sessão nostalgia) a música que o Nando Reis fez para a Cássia Eller, All Star:

“Estranho é gostar tanto do seu All Star azul... seu All Star azul combina com o meu, preto, de cano alto”
Embalada pela música, prometo solenemente a minha pessoa que a partir dali, mais All Star e menos tamancos.
E assim aconteceu, o reencontro foi realmente mágico: O mesmo número, cor e modelo ajustou-se maravilhosamente aos meus pés... 20 anos depois.
Desde então uma estranha liberdade tomou conta dos meus dias: troquei não apenas os sapatos, troquei a bolsa por uma mochilinha preta e ganhei mãos e ombros livres. Uma pequena (e leve) mochila nas costas e um All Star nos pés e me senti rejuvenescer alguns anos com meu novo pretinho básico. Agora corro no asfalto e na calçada irregular (salve Campo Grande... hahaha), com ou sem chuva e sem ter que segurar a bolsa (grande e cheia de tralhas) que vivia escorregando, ganhei a liberdade das mãos livres novamente. Subo e desço escadarias numa velocidade incrível e nunca mais virei o pé num buraco nem prendi o salto numa daquelas grelhas para escoar água, ou onde quer que seja e os joelhos também agradeceram. Já penso em outros pares, outras cores e um de modelo botinha talvez. Parece pouco, mas acredite, a mudança foi por dentro e por fora, enxergando a vida por outro ângulo sem dúvida, até chuva tomei de novo e tudo bem, seca rápido, viva o All Star!
Bem, o coração que fui checar lá no comecinho do texto está ótimo e apesar de mais ter apanhado que batido, tem pulsado compassadamente, a vida é mesmo bela, de All Star então, ficou mais colorida ainda!
Se você já passou dos quarenta anos como eu, ou tem trinta, vinte ou até menos, não importa, desejo que você também redescubra All Stars ou qualquer outra coisa que traga uma nova visão, novas cores e alegrias aos seus dias!  Publicado no site Superela, uma página que 




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