Crônica: Redescobrindo All Stars
Imagem original do texto no site Superela/Pexels |
Corro para fugir da
chuva enquanto abraço forte os livros.
Não, eu não fujo do banho de
chuva, amo, acho revigorante, mas não quero molhar os muitos papéis que
carrego: Pedidos de exame, guias do plano de saúde, livros que levei para
terminar de ler durante a longa jornada na sala de espera do cardiologista e a
velha agenda em espiral que insisto em usar a mesma por dois anos (!). Um
coração de quarenta e poucos anos, que mais apanhou do que bateu,
definitivamente precisa mesmo um de check-up, ou de uma recauchutagem para
continuar a jornada.
Meus olhos ainda não
avistam o carro e apresso os passos quando as gotas começam a molhar
a roupa e os sapatos, definitivamente, correr com salto alto é um atraso de
vida, ainda mais em uma calçada irregular!
Aprendi a usar salto aos 15 anos nos
ensaios para desfile de modas. Moleca que era, enquanto minhas amigas exibiam sapatos
de salto alto finos, com bicos mais finos ainda (salve geração adolescente
anos 90) eu, uma magrela de cabelos com cacheados na altura da cintura,
preferia um All Star. Aah sim, sem
dúvida um bom e velho All Star surrado
nessa hora me faria alcançar o bendito carro antes de todo aquele
aguaceiro que, a essa altura já era torrencial. Alcanço o carro finalmente e chego
em casa encharcada com a chuva fresca que caiu sobre mim e sobre todos os aqueles
benditos papeis...puxa!
Abro o armário em busca de
um chinelinho e não tem um par sequer lá dentro, tampouco um tênis All Star. Mas porque cargas d’água eu
deixei de usar um calçado tão confortável e fofo como aquele e ‘subi nas
tamancas’ nos últimos 20 anos? Que falta de sentido!
Busco
uma foto antiga onde estou lá adolescente (ao lado do namoradinho) vestindo
calça e jaqueta jeans e, claro, o tênis preto com listas brancas, uau!
Confesso
que uma nostalgia pairou no ar ali enquanto raios e trovões davam um verdadeiro
show lá fora, ahhhhh tempo bom aquele da foto! Corro até o aparelho de som
(sim, ainda uso esse termo) e coloco lá via bluetooth (modernizando a sessão
nostalgia) a música que o Nando Reis fez para a Cássia Eller, All
Star:
“Estranho é gostar tanto do seu All Star azul... seu All Star azul
combina com o meu, preto, de cano alto”
Embalada pela música, prometo
solenemente a minha pessoa que a partir dali, mais All Star e menos tamancos.
E assim aconteceu, o reencontro foi realmente
mágico: O mesmo número, cor e modelo ajustou-se maravilhosamente aos meus pés...
20 anos depois.
Desde então uma estranha liberdade
tomou conta dos meus dias: troquei não apenas os sapatos, troquei a bolsa por
uma mochilinha preta e ganhei mãos e ombros livres. Uma pequena (e leve) mochila
nas costas e um All Star nos pés e me
senti rejuvenescer alguns anos com meu novo pretinho básico. Agora corro no
asfalto e na calçada irregular (salve Campo Grande... hahaha), com ou sem chuva
e sem ter que segurar a bolsa (grande e cheia de tralhas) que vivia
escorregando, ganhei a liberdade das mãos livres novamente. Subo e desço escadarias
numa velocidade incrível e nunca mais virei o pé num buraco nem prendi o salto
numa daquelas grelhas para escoar água, ou onde quer que seja e os joelhos
também agradeceram. Já penso em outros pares, outras cores e um de modelo
botinha talvez. Parece pouco, mas acredite, a mudança foi por dentro e por
fora, enxergando a vida por outro ângulo sem dúvida, até chuva tomei de novo e
tudo bem, seca rápido, viva o All Star!
Bem, o coração que fui checar lá no
comecinho do texto está ótimo e apesar de mais ter apanhado que batido, tem
pulsado compassadamente, a vida é mesmo bela, de All Star então, ficou mais colorida ainda!
Se você já passou dos quarenta anos como eu, ou tem trinta, vinte ou até
menos, não importa, desejo que você também redescubra All Stars ou qualquer outra coisa que traga uma nova visão, novas
cores e alegrias aos seus dias! Publicado no site Superela, uma página que
Acesse o texto na >>>> Página original AQUI <<<<<
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